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Henriette Morineau: balanço de uma vida em trânsito

Atriz e diretora revê sua trajetória em depoimento concedido ao Serviço Nacional de Teatro em 1976

Henriette Morineau fotografada por Carlos Moskovics para a divulgação de 'Frenesi', montada em 1961 (Cedoc/Funarte)

Henriette Morineau fotografada por Carlos Moskovics para a divulgação de 'Frenesi', montada em 1961 (Cedoc/Funarte)

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Para todos do meio teatral ela era a Madame Morineau. Henriette Roulleau (1908-1990), nascida na pequena Niort, distante 400 quilômetros de Paris, tornou-se Morineau no instante em que sua vida deu uma guinada definitiva. Brasil, 1931. Ao desembarcar no porto do Rio de Janeiro, onde a esperava o noivo francês que aqui vivia, encontrou-o com um buquê de flores na mão e a promessa de um casamento feliz. Henriette narra a cena com ironia e amargura. Em depoimento concedido ao Serviço Nacional de Teatro, em 1976, que contou com as participações de Paulo Autran, Oscar Felipe, Adriano Reis e Ilka Marinho Zanotto, a grande atriz e diretora franco-brasileira dramatiza as passagens mais importantes de sua trajetória pessoal e profissional. A exemplo das heroínas trágicas que encarnaria nos palcos, o destino, acredita, não é algo de que se possa escapar.

Ouça o depoimento da atriz ao SNT e acompanhe no vídeo imagens da carreira de Henriette Morineau

Henriette descobriu o teatro clássico ainda nos tempos de escola, decorando com avidez trechos de tragédias que nunca tinha visto montadas. Rememorando a censura que recebeu de uma professora, que considerava excessiva sua empolgação ao declamar as imprecações de Camille em Horace, de Corneille, conta: “Não, minha senhora, mas eu acho que não pode ser calmamente, nessa situação eu tenho que dizer, eu tenho que representar!”

Graças ao amor precoce pelo teatro, que a levava a devorar textos de Molière e Racine, e a uma força de vontade desmesurada, superou obstáculos como a resistência familiar e a solidão na cidade grande. Com o objetivo de ingressar no templo sagrado do teatro francês, a Comédie Française, rumou para Paris antes mesmo de atingir a maioridade, mas com a cabeça já feita pelo repertório clássico. Em uma das etapas do concurso de admissão no conservatório, enfrentou a oposição de outra aspirante a atriz, que queria derrubá-la: “Já no segundo concurso, eu encontrei o que se encontra muitas vezes no meio teatral: inveja!”, lembra Morineau, com uma entonação carregada de sarcasmo que diverte seus interlocutores.

A carreira iniciada na companhia liderada por Henry Mayer, quando Henriette era ainda estudante, e interrompida após sua chegada ao Brasil, seria retomada aos poucos a partir de 1939, ao organizar um curso de interpretação da Academia Brasileira de Imprensa, em francês.

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‘Acho que dei ao teatro brasileiro um repertório diferente do que se representava, e o amor pelo teatro’

Em 1942, toma parte na excursão pela América do Sul da companhia de Louis Jouvet. Dois anos depois, quando começa a trabalhar na companhia de Bibi Ferreira, representa pela primeira vez um papel em português em Presa por Amor. Em 1946, funda Os Artistas Unidos, tornando-se também empresária. Na companhia, referência de qualidade e profissionalismo, leva aos palcos textos clássicos e modernos. Naquele ano, recebe o Prêmio da Associação Brasileira de Críticos Teatrais por sua interpretação em Frenesi, de Charles de Peyret-Chappuis. Em 1948, inaugura o Teatro Brasileiro de Comédia – TBC –, em São Paulo, com A Voz Humana, monólogo de Jean Cocteau. Permaneceu à frente dos Artistas Unidos durante 14 anos, com uma breve interrupção em 1955, quando vai trabalhar com Eva Todor. Ao retornar, no ano seguinte, atua em Chéri, de Colette, que considera o maior sucesso de sua carreira. Em sua companhia, Morineau ajudou a lapidar o talento de atores como Fernanda Montenegro, Beatriz Segall e Jardel Filho. Nas décadas seguintes, trabalharia no Teatro dos Sete e no Teatro Oficina, com José Celso Martinez Corrêa. Entre 1963 e 1971, enviada pelo Itamaraty em missão cultural, passa mais tempo em Portugal que no Brasil, dirigindo, atuando e lecionando no Conservatório Dramático de Lisboa. Por sua contribuição ao teatro brasileiro, foi condecorada com a Ordem do Cruzeiro do Sul. Sem falsa modéstia, Morineau admite esta contribuição: “O que eu acho que eu dei ao teatro brasileiro, quando eu apareci, foi um repertório diferente do que se representava, e (…) o amor pelo teatro”, diz.

Madame Morineau fala sem emoção de seus trabalhos fora do teatro, queixando-se do ritmo imposto ao ator pelo trabalho em televisão, contrário à contemplação e estudo que um texto exige. Para ela, o lugar do ator era no teatro: “Para mim, é o palco e a presença do público; sentir o público, a sua respiração. E, depois, seu contentamento ou seu descontentamento, não sei. Mas, em todo o caso, a sua presença”, diz. Considera indispensável a dedicação integral do ator à sua profissão, daí a importância da disciplina e, sobretudo, da vocação. Devota dos clássicos até o fim da vida, a atriz encerra seu depoimento declamando uma passagem da tragédia de Racine, Fedra, no momento em que a heroína declara seu amor a Hipólito.

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