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Da infância sofrida à glória através do teatro

Em entrevista ao Serviço Nacional de Teatro em 1975, a atriz Cleyde Yáconis revela que passou fome e sofreu com maus-tratos do pai

A atriz Cleyde Yáconis em entrevista ao Serviço Nacional de Teatro em 1975. Cedoc/Funarte

A atriz Cleyde Yáconis em entrevista ao Serviço Nacional de Teatro em 1975. Cedoc/Funarte

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No dia 8 de outubro de 1975, Cleyde Yáconis, então prestes a completar 52 anos (a atriz nasceu no dia 14 de novembro de 1923, em Pirassununga), chegou ao Teatro Anchieta, em São Paulo, para ser sabatinada  por um seleto grupo de entrevistadores que incluía os atores Paulo Autran e Cláudio Correia e  Castro. O áudio do bate-papo, que passearia por temas como sua dura realidade na infância e a  maneira atípica como o teatro acabou entrando em sua vida, é uma das raridades do acervo do  Centro de Documentação e Pesquisa (Cedoc) da Funarte.

Nos anos 70, em iniciativa conjunta da Funarte com o Ministério da Educação e Cultura e o  Serviço Nacional de Teatro, a coleção de livros intitulada Depoimentos reuniu entrevistas com  alguns dos mais importantes artistas da cena teatral nacional. Cleyde Yáconis, grande dama do teatro brasileiro, foi uma das atrizes a dar seu testemunho para a posteridade: “Meu pai, uma figura que eu lastimo não conhecer hoje, era uma pessoa muito estranha. Só pode ter amado minha mãe, que foi uma mulher muito bonita. Meu pai, eu tenho desconfiança que ele foi escroque, não sei”, revela a atriz durante a entrevista. “A nossa alimentação era roubada de uma quitanda e, graças a Deus, a cerveja Caracu, onde eu tomei bastante levedo. Acho que o dono tinha dó”, continua.

“Ele tinha um requinte de espancamento”, diz atriz sobre o pai

As memórias dos dolorosos primeiros anos de vida prosseguem. Sobre o pai (“filho de calabresa e  de grego”, diz ela), a atriz revela que usava roupas elegantes e procurava se cuidar, enquanto as filhas mal tinham o que vestir e ainda eram espancadas. “Ele tinha um requinte de espancamento, que se batia com o cinto era do lado da fivela (…) Eu e Cacilda somos muito parecidas com ele, principalmente na mão. Ele gostava de bater aqui no cocoruto, pra gente desmaiar. Entende? É a lembrança que eu tenho do meu pai até quatro anos”. A separação dos pais aconteceria quando a atriz tinha exatamente tal idade. “Nós ficamos um ano na casa da minha avó. Embora possa parecer inacreditável, durante o ano que ficamos lá, jogada fora ou não, minha mãe tinha o estigma de ‘separada’”, continua a atriz. “Nós ficamos no fundo do quintal,  num depósito da casa do meu avô e jamais sentamos na mesa. Só comíamos realmente quando sobrava”.

Durante a entrevista, viria a revelação de que a irmã da atriz, Cacilda Becker (1921-1969), uma das mais celebradas atrizes da história do teatro brasileiro, teve seu despertar artístico através da dança. “Quando a fome apertava muito, a Cacilda dançava”, lembra Cleyde. A partir do amor pela dança, Cacilda ingressaria no teatro e daria melhores condições de vida à família, como observa Cleyde: “Eu era enfermeira de acidentados numa companhia de seguros. E a Cacilda, fazendo teatro, já nos ajudava financeiramente, de forma que aos 18 anos a gente já morava numa casinha de tijolo, sobradinho, mobilinha e tal”.

Através do teatro, a garantia do sustento familiar

O ingresso de Cleyde Yáconis no teatro não tardaria: “Arranjei um emprego no guarda-roupa do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia)”. Cleyde já tinha, então, 24 anos, e logo seria chamada a substituir uma atriz, que ficara doente, no clássico Anjo de Pedra, de Tennessee Williams. Em seguida, o diretor Ziembinski a convidaria a participar de Pega-fogo, que seria o espetáculo das segundas-feiras. “Ele disse: não vai prejudicar os seus estudos e você ganha um tutuzinho”. Cleyde faz, então, declaração surpreendente na entrevista: “Foi por causa do tutuzinho que aceitei e fiz a minha primeira peça ensaiada, que estreou também em 1950, em Espetáculos de Segunda-feira e, em janeiro, não prestei o exame da Faculdade de Medicina. Não porque tivesse me apaixonado pelo teatro, mas simplesmente porque fiquei espantada com o que iam me pagar para fazer teatro. Eu ia levar dinheiro pra casa”. Durante a entrevista concedida ao SNT, a atriz revê sua trajetória no teatro e comenta o trabalho com alguns dos principais diretores até então.

Saiba mais:
Biografia de Cleyde Yáconis e fotos da carreira

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Comentários

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Graciane Pires

enviado em 21 de outubro de 2010

Gostei muito e achei importantíssimo como documento esta entrevista. Que bom que está disponível aqui!

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