Gonzaguinha e Marlene: recordistas de público no Projeto Pixinguinha
Com repertório que mesclava canções de dor de cotovelo e denúncia social, a diva do rádio e o jovem compositor levantaram plateias em 1977 e 78
Mídias deste texto
Imagens (11 imagens)
Áudios (13 áudios)
-
subir -
Começo de Festa (instrumental) – Marlene e Gonzaguinha
-
A Felicidade Bate à sua Porta / Revista do Rádio – Marlene e Gonzaguinha
-
Primeira Bateria / Mora na Filosofia / Sapato de Pobre / Lata d’Água / Zé Marmita / Primeira Bateria – Marlene e Gonzaguinha
-
Lindo / É Preciso – Gonzaguinha
-
Joia Falsa / Eu fui à Europa / Dedo na Cara / Moleque – Marlene e Gonzaguinha
-
Canário / Artistas da Vida / Samba do Avestruz / João do Amor Divino / Seu Meu Time não Fosse Campeão – Gonzaguinha
-
Ronda / Cabaret – Marlene
-
Gás Neon / Odaléa / Pra Frente Brasil / E por Falar no Rei Pelé? – Gonzaguinha
-
Pesadelo – Marlene
-
Galope – Marlene
-
Começaria Tudo Outra Vez – Gonzaguinha
-
Revista do Rádio / Palavras – Marlene e Gonzaguinha
-
Chão, Pó, Poeira / Galope – Marlene e Gonzaguinha
-
No primeiro ano do Projeto Pixinguinha, nenhum espetáculo teve tanto público quanto o de Marlene e Gonzaguinha. Do Rio de Janeiro a Belo Horizonte, passando por São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, foram 24.372 espectadores aplaudindo o show que, montado originalmente para o projeto Seis e Meia (como todos os outros do ano de estreia do Pixinguinha), inflamou plateias lotadas nos teatros em que se apresentou naquela temporada de 1977.
“Colaborou muito para essa explosão a forma com que o diretor Fauzi Arap acendeu o pavio, com elegância, inteligência e efeito dirigido”, escreveu o crítico Wladimir Soares na edição de 12 de outubro de 1977 da Folha da Tarde, de São Paulo. Destacando o fato de os dois intérpretes passarem o espetáculo inteiro no palco, o texto ainda exaltava a intensidade de Marlene (“passional, violenta, emotiva, transbordando”) e o amadurecimento de Gonzaguinha: “No último show que ele fez em São Paulo, sua presença no palco já era uma agressão constrangedora. Agora, ele entra com uma convicção de que não estão ali as pessoas que ele quer agredir. Melhor para ele e para o público.”
O repertório também facilitava a reação da plateia, intercalando números românticos e engajados. A dor de cotovelo era cantada em samba de carnaval (“Mora na filosofia / Pra que rimar amor e dor?”) e num bolero recém-composto (“Começaria tudo outra vez / Se preciso fosse, meu amor”). Já as mazelas sociais vinham à tona em antigos sucessos do rádio (“Sobe o morro e não se cansa / Pela mão leva a criança / Lá vai Maria”) e em canções como a “bluesada” E por falar no Rei Pelé?, da safra então mais recente de Gonzaguinha (“Craque mesmo é o povo brasileiro / Com os homens em cima na marcação”). Na Galeria de Áudios ouça o espetáculo na íntegra.
Surgido no começo dos anos 70, egresso do Movimento Artístico Universitário (o MAU), o carioca Luiz Gonzaga Jr. sempre trilhou um caminho musical completamente diferente do pai famoso, o Rei do Baião Luiz Gonzaga. Escrevendo composições românticas ou repletas de memórias da infância vivida no bairro de Estácio (onde foi criado pelos padrinhos), caiu logo no gosto do público, gravando seu primeiro LP em 1973. Quando foi convidado a participar do Projeto Pixinguinha, quatro anos mais tarde, já tinha cinco discos lançados e fãs por todo o país.
Já a cantora Marlene, cujo fã-clube é até hoje um dos mais fiéis do Brasil, ainda emocionava plateias com sambas e marchinhas de carnaval que as consagraram na era do rádio, nos anos 40 e 50, quando travou rivalidade histórica com Emilinha Borba pela coroa de rainha do rádio. Na década de 70, aproximou-se da MPB universitária, dando novo rumo a sua carreira. Como descreveu o jornal porto-alegrense Zero Hora em 25 de outubro de 1977, era uma outra Marlene aquela viajava pelo país com o Projeto Pixinguinha: “de jeans, cabelos encrespados e em desalinho, ela canta hoje talvez até para os netos de suas primeiras fãs, na linguagem de hoje.” Veja reprodução desta e de outras matérias sobre o espetáculo na Galeria de Imagens.
O sucesso de sua dupla com Gonzaguinha fez com que a caravana voltasse à estrada na temporada de 1978, com apresentações no Rio de Janeiro e em Vitória, Salvador, Maceió e Recife. Com 27.118 espectadores, foi o maior público do Projeto Pixinguinha entre as duplas que fizeram turnê pelo Nordeste. É desta segunda temporada a gravação do espetáculo que apresentamos no Brasil Memória das Artes, com acompanhamento musical de Ary Piassarolo (guitarra), Chiquinho (bateria), Cláudio Cacibé (percussão), Jota Moraes (teclado), Luizinho (violão), Mojica (piano), Paulo Maranhão e Tranka (contrabaixos).
Depois das duas temporadas ao lado de Gonzaguinha, Marlene se firmaria como a artista que mais vezes participou do Projeto Pixinguinha, com outras cinco turnês: em 1980 (com João Bosco e Novelli), 81 (com Antonio Adolfo e Wanda Sá), 84 (com Pedro Caetano, Céu da Boca e Hélcio Brenha), 86 (com Zeca do Trombone e Alceu do Cavaco) e 93 (sozinha).