Viagem no tempo a partir de consulta a programas de peças de Nelson Rodrigues
Acervo do Centro de Documentação da Funarte conta com rico material impresso de montagens de peças rodriguianas
Mídias deste texto
Imagens (15 imagens)
Quinta peça de Nelson Rodrigues, Senhora dos Afogados foi escrita durante fase em que o dramaturgo procurava abordar em seus textos temas míticos. Escrita em 1947, foi censurada e interditada pela justiça, só obtendo liberação em 1953. Uma montagem, na ocasião, chegou a ser ensaiada pelo TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), sob direção de Ziembinski, mas foi rejeitada após duas semanas de ensaios. Em 1954 a peça finalmente foi montada no Teatro Municipal sob direção de Bibi Ferreira, com Nathalia Timberg e Sônia Oiticica nos papéis principais. No Centro de Documentação (Cedoc) da Funate, é possível consultar programas da montagem em questão e de várias outras realizadas a partir de textos do dramaturgo.
Curiosidades cercam algumas das montagens de peças do escritor. A primeira apresentação de Senhora dos Afogados, por exemplo, foi marcada por vaias e aplausos. Ao final da peça, parte do teatro gritava ‘gênio’ e, outra parte, ‘tarado’, até que Nelson subiu ao palco e complicou mais as coisas gritando “Burros! Burros!”. A um repórter, declarou: “Tenho notado que acontece, com as minhas peças, uma coisa muito interessante: geralmente, elas desagradam aos cretinos de ambos os sexos”. Outra encenação a contar com Sônia Oiticica, A Falecida é mais uma peça a ter seu programa disponível para consulta no Cedoc: montada um ano antes de Senhora dos Afogados, também teve direção de Bibi Ferreira no mesmo Teatro Municipal.
No material impresso disponível do espetáculo Anjo Negro, de 1948, estrelado por Maria Della Costa, é possível observar inserções dos patrocinadores/ apoiadores da época. No programa de Beijo no Asfalto, que marcaria a primeira incursão de Fernanda Montenegro pela obra de Nelson Rodrigues, em 1961 (sabia mais na Série Depoimentos), a companhia teatral Teatro dos Sete, em sua quinta produção, descreve seus anseios e expectativas sobre o fazer teatral no Brasil. No elenco da tragédia carioca, nomes como Francisco Cuoco, Sérgio Britto e Ítalo Rossi.
Bonitinha, mas Ordinária, estrelada por Tereza Rachel em 1962 no Teatro Maison de France, é outro dos espetáculos de autoria de Nelson Rodrigues a ter o programa original no Centro de Documentação da Funarte. No material impresso, é possível ver anúncios publicitários da época destinados ao público feminino e masculino. De rico apelo visual, o programa da peça Perdoa-me por me Traíres (Teatro Municipal, 1957) apresenta uma colagem de fotos dos atores que compunham a encenação, que contou com o próprio Nelson Rodrigues como ator. A enriquecer o acervo disponível no Centro de Documentação da Funarte estão ainda programas de peças como Toda Nudez Será Castigada, Viúva, Porém Honesta e montagens variadas de Vestido de Noiva.