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Thelma Reston e Nelson Rodrigues: recordações de uma parceria histórica

Atriz com carreira marcada por tipos rodriguianos fala da relação com o autor: "O público descobriu tarde que, dos autores, Nelson é o mais importante"

As atrizes Tânia Scher, Carmen Palhares, Ana Rita, Thelma Reston, Diana Antonaz e Ana Maria Magalhães em montagem da peça Os Sete Gatinhos de 1967. Foto Carlos. Cedoc/Funarte

As atrizes Tânia Scher, Carmen Palhares, Ana Rita, Thelma Reston, Diana Antonaz e Ana Maria Magalhães em montagem da peça Os Sete Gatinhos de 1967. Foto Carlos. Cedoc/Funarte

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“Há uma predestinação que traz Thelma Reston para o meu teatro e meus filmes. Estreou na minha peça A Falecida. Posso dizer que percorreu meus textos. Faço também questão de confessar que sou seu admirador há muito tempo. Bem sei que o brasileiro admira pouco. Não tenho este defeito horrendo. Admiro Thelma Reston e cada vez mais. Direi, por fim, que é uma grande atriz”. No dia 14 de setembro de 1980, poucos meses antes de morrer, Nelson Rodrigues declarava, em carta de recomendação especialmente escrita para a atriz, todo o carinho e admiração que nutria por ela.

Quis o destino que a carreira de Thelma Reston fosse marcada por tipos rodriguianos, como a inesquecível Dona Aracy, a Gorda da versão para o cinema da peça Os Sete Gatinhos, sob direção de Neville D’Almeida, em 1980. A atriz já tinha familiaridade com o texto quando o encenou no cinema: em 1967, integrou montagem teatral de Os Sete Gatinhos, com direção de Álvaro Guimarães, ao lado de Ana Maria Magalhães. Imagens da montagem foram registradas pelo estúdio Foto Carlos, que dos anos 40 aos anos 80 fotografou os principais espetáculos teatrais encenados no Rio de Janeiro. Disponíveis no Centro de Documentação (Cedoc) da Funarte, tais fotos mostram a atriz em poses provocantes, na pele da personagem Aurora, com o ator Érico de Freitas. A atriz voltou a ter contato com o texto ao estrelar, em 1998 e 1999, nova montagem dele, desta vez sob direção de Moacyr Góes.

A relação de Thelma Reston com o universo rodriguiano começou quando a atriz tinha apenas um ano de carreira. Em 1960, integrou o elenco de montagem da peça A Falecida, no papel de Zulmira. O espetáculo foi dirigido por Rubens Corrêa e encenado no Teatro Ipanema, na época conhecido como Teatro do Rio. Em 1962, atuou em Bonitinha, mas Ordinária, ao lado de Tereza Rachel. Participou da montagem de Vestido de Noiva, em 1965, dirigida por Sérgio Cardoso, com encenação no Teatro Municipal. Em 1967, Thelma Reston atuou com o Teatro Jovem na peça Álbum de Família, que, dirigida por Kleber Santos, seria montada pela primeira vez desde a interdição, 21 anos antes.

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Universo rodriguiano também no cinema

Nelson Rodrigues também se fez presente nos trabalhos realizados por Thelma Reston no cinema. Em 1965, a atriz atuou em Engraçadinha, ao lado de Jece Valadão, Jardel Filho e Fregolente. No ano seguinte, fez Engraçadinha Depois dos 30. Os dois filmes foram dirigidos por J.B. Tanko.
Por Os Sete Gatinhos, em 1980, recebeu o Kikito de Melhor Atriz no Festival de Cinema de Gramado. Em 1981, foi a vez de a atriz atuar em Beijo no Asfalto, de Bruno Barreto.

Em entrevista especialmente concedida ao portal Brasil Memória das Artes, a atriz fala de seu envolvimento com o universo ficcional de Nelson Rodrigues ao longo de cinco décadas de carreira e descortina saborosas histórias de bastidores. “Pode ser que para as pessoas a personagem mais marcante tenha sido a Gorda, mas não para mim. Eu gosto muito da Zulmira da Falecida. Não sei se é por ter sido o primeiro texto que eu fiz dele… foi muito importante. E a Aurora de Os Sete Gatinhos, que eu fiz mais jovem”.

Cena de intimidade em ‘Os Sete Gatinhos’ partiu de uma ideia de Thelma Reston

Passagem curiosa das filmagens de Os Sete Gatinhos é relembrada pela atriz. “Inventei uma cena que não tinha, que é uma cena de masturbação. Cheguei à conclusão de que essa mulher não dorme com o marido há muito tempo. Ela se masturba. E depois o Neville (D’Almeida, diretor) botou o Lima (Duarte, ator que interpretava o marido da personagem) olhando pelo buraco da fechadura, vendo a mulher se masturbar. Eu fiquei muito nervosa. O Nelson vai dizer o quê? Ele adorou. Ele disse: “como é que eu não pensei nisso?”"

Para Thelma Reston, o interesse do grande público pela obra de Nelson Rodrigues demorou a acontecer. “O público descobriu muito tarde que, dos autores, o Nelson Rodrigues é o mais importante. Não tem outro, desculpem, mas o autor que tem a obra mais importante e mais completa é Nelson Rodrigues.”

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Comentários

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Nelson Rodrigues 100 anos! « Milton Alves

enviado em 25 de agosto de 2012

[...] Thelma Reston e Nelson Rodrigues: recordações de uma parceria histórica Quis o destino que a carreira de Thelma Reston fosse marcada por tipos rodriguianos, como a inesquecível Dona Aracy, a Gorda da versão para o cinema da peça Os Sete Gatinhos, sob direção de Neville D’Almeida, em 1980. No teatro e no cinema, a atriz deu vida a várias personagens rodriguianas, como relata em entrevista especialmente concedida ao portal Brasil Memória. Imagens Vídeos [...]

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