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Os Comediantes e o moderno teatro brasileiro

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Toca o terceiro sinal. As luzes se apagam. Os últimos burburinhos da plateia silenciam-se. Abre-se a cortina. O público não faz ideia de que está prestes a ver uma revolução acontecer sobre o palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. O ano é 1943. Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, acaba de ganhar sua primeira montagem.

Para uma revolução acontecer, porém, é preciso que haja uma conjuntura que fomente mudanças, além de agentes que clamem por transformações e estejam dispostos a se arriscar para trazer o novo, para fazer diferente.

Assim era o grupo Os Comediantes, que havia estreado em 1939 com a peça A verdade de cada um, de Pirandello. Coordenado por Brutus Pereira e Santa Rosa, o grupo reunia artistas amadores, mas com forte convicção de transformar nosso teatro.

Um dos principais elementos que os levaram a alcançar esse feito foi a incorporação de um diretor de cena. Até então, no Brasil, as peças eram dirigidas pelo ator principal da companhia, que conduzia os espetáculos em torno de sua própria atuação. Agostinho Olavo, que integrava a diretoria do grupo, descobriu um polonês, fugitivo da Segunda Guerra e de passagem pelo Rio, que se dizia um experiente ator. Zbgniev Ziembinski foi contratado pelo grupo e logo assumiu a direção dos espetáculos. Ele trouxe da Europa as ideias de unificação dos elementos de cena (cenários, atores, luz, som), contribuindo para a modernização do teatro nacional.

Na época, o teatro brasileiro estava subjugado a uma forte dicotomia: de um lado, o teatro popular, que falava com as massas e fazia rir. De outro, o teatro considerado arte, mais hermético e bem elaborado. O grupo Os Comediantes representa um marco por sua preocupação em unir essas duas abordagens. Assim, seus integrantes dedicavam-se a produzir espetáculos que fizessem rir e atraíssem o grande público e, ao mesmo tempo, empenhavam-se em garantir a qualidade dos textos, da iluminação, dos cenários, enfim, do conteúdo apresentado.

Ao oferecerem um teatro que fazia rir e, ao mesmo tempo, refletir, Os Comediantes correspondiam aos anseios das camadas médias. E quando, em 1943, Ziembinski, Santa Rosa e Brutus Pereira, que estavam em busca de um texto nacional, chegaram ao jornalista Nelson Rodrigues e sua peça inédita Vestido de Noiva, todos os elementos se encaixaram.

O espetáculo reunia um texto bem construído e técnicas de vanguarda para o teatro brasileiro. O foco dramático se deslocou do texto para a expressão visual de seu conteúdo psicológico, por meio de uma cenografia revolucionária. Renascia a estética cênica brasileira.

Ao fim da sessão, um silêncio tomou conta do Teatro Municipal. Elenco, diretor, equipes e até Nelson Rodrigues gelaram. Uma vaia ameaçou surgir, mas foi calada pelas primeiras palmas daqueles que se recuperavam do impacto diante da onda que acabara de sacudir, para sempre, nosso teatro. As palmas se multiplicaram e uma ovação tomou conta do lugar. Nascia o moderno teatro brasileiro.

Por Adriana Passos
Revisão de Maria Cristina Martins e Pedro Paulo Malta

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