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Depoimentos de fotógrafos

Aguinaldo Ramos, Alberto Melo Viana, Andreas Valentim, Joaquim Paiva, Luiz Carlos Felizardo, Orlando Azevedo, Rogério Reis, Rosely Nakagawa, Sandra de Azevedo Fernandes e Stella de Sá Rego falam sobre papel da Funarte

Aguinaldo Ramos

A criação da Funarte é pouco posterior à minha tardia iniciação (revista Manchete, 1997, aos 27 anos) nos percalços do fotojornalismo, meu foco absoluto até os anos 90. Convivendo com as iniciativas do INFoto (exposições, concursos etc, de que até hoje guardo amostras), é que comecei a captar a dimensão artística da Fotografia. Porém, a experiência mais transcendental desta fase foi a VI Semana Nacional da Fotografia, em Ouro Preto, MG, 1987, quando já me tornara freelancer. A bordo de um valente fusquinha, encaramos (eu, Vera Sayão, Massao Goto Filho, Celso Oliveira e Ana Paula Romeiro) a viagem do Rio de Janeiro a Ouro Preto, via Tiradentes e Congonhas do Campo. O evento foi deslumbrante, tanto pelas fotos, a surpresa das imagens, quanto pelas conversas, o início de grandes amizades. E pela abertura de novas perspectivas pessoais no campo da Fotografia, ainda que só viessem a florescer na última década…

Alberto Melo Viana

Terminei o curso de jornalismo em dezembro de 1975, na PUC do Paraná. Ganhei de minha mãe uma Canon FTB, vinda de Manaus. Comecei a trabalhar com repórter fotográfico, em fevereiro de 1976, no jornal O Estado do Paraná. Em julho de 76, participei com uma exposição do Festival de Inverno de Lages, Santa Catarina. Em outubro, do mesmo ano, fui um dos organizadores da I Mostra de Fotojornalismo do Paraná. Então, comecei minha história com a fotografia com um pé no jornalismo e outro no museu. Em Curitiba, a galeria Acaiaca, realizava naquela época uma mostra anual que chamava “Arte Classe A” e com nossa movimentação em torno da fotografia na cidade, no ano de 1977, ela incluiu a fotografia nesta mostra, que era o maior evento da arte na cidade. Coloquei fotografias, ampliadas grandes, de crianças pobres da periferia da cidade, feitas, a princípio, por minha conta, para denunciar o estado de miséria em que viviam, nas páginas do jornal, algumas sendo publicadas. Foi um escândalo no dia da abertura da mostra, mas enfim o fotojornalismo documental foi para a galeria de arte. Em 1978, participei do livro\exposição Hecho em Latinoamerica, organizado pelo Conselho Mexicano de Fotografia.

Quando começaram, em 1979, as tratativas no Rio de Janeiro, junto à Funarte, que tinha sido criada em 1975, para a criação de uma galeria exclusiva  de fotografia e que terminou virando o Núcleo de Fotografia, eu já estava ligado no negócio de colocar a fotografia nas galerias e fiquei antenado no lance. Vi que aquilo poderia ser o meio de integrar a fotografia brasileira, a maneira que eu teria, por exemplo, de conhecer os fotógrafos de outros lugares, de trocar experiências e foi o que aconteceu.

Curitiba foi premiada, na época, com um escritório da Funarte e nossa ligação foi ainda mais forte e atuante, pois as informações chegavam com mais rapidez. Aqui se concentrou todas as atividades para a realização da mostra “FOTOSUL – A presença do imigrante”, no ano de 1983, quando houve uma ligação muito grande com o Núcleo de Fotografia. Fui membro de um Conselho Consultivo de Fotografia que existiu no Escritório da Funarte em Curitiba. Foi um momento de crescimento na produção e no consumo fotográfico, tanto em Curitiba, bem como no Brasil.

Minha primeira participação direta nas Semanas de Fotografia, no entanto, só se deu em 1985, quando já existia o Instituto Nacional de Fotografia, criado em 1984. Fomos eu e João Urban para Belém do Pará para a IV Semana Nacional de Fotografia, ficamos hospedados na casa do jornalista Laurentino Gomes, que era chefe na época da sucursal da revista Veja para a Amazônia. Foram dias de muita agitação e muito aprendizado.

E muita fotografia. As reuniões noturnas em torno do projeto Fotoativa, na ‘Praça do Ferro de Engomar’ foram maravilhosas. A troca de informações, de experiências, com os mais jovens e com os mais velhos foram muito enriquecedoras. Voltei maravilhado e com a certeza de que tinha que fazer muito, pois no ano seguinte a Semana seria realizada em Curitiba e muitas idéias afloravam na cabeça.

Em 1986, foi a vez da Semana aportar em Curitiba. Participei com uma mostra individual no Museu da Imagem e do Som, com o nome de Meninos Sem Terra. Foi muito rica, também, a troca de informações, as novas amizades. A fotografia brasileira passou a se conhecer.

Em 1987 foi o auge das Semanas, com a realização de edição Ouro Preto, mais de 600 fotógrafos estavam presentes. Fui e fiquei hospedado numa pensão, juntamente com o fotografo Genésio Siqueira. Dividimos um quarto. Já não se conseguia um lugar na cidade. Foi o momento áureo das grandes projeções. Munidos de travesseiro (para não queimar o braço) e projetor de slides, saíamos às ruas projetando imagens. Não posso esquecer de uma grande festa numa casa que tinha um quintal com árvores e projetamos fotografias que se misturavam com a paisagem natural. Foi uma coisa muito bacana. Por onde andasse encontrava com fotógrafos subindo e descendo ladeiras, como quando encontrei David Drew Zingg, já quase arreando de cansado, no topo de uma das ladeiras. Era sempre o nosso grande momento do encontro.

No final da brilhante história do Núcleo\INFoto, em 1989, ainda fui na última Semana Nacional de Fotografia que aconteceu, em Campinas. Fiquei num quarto de hotel com Milton Guran e João Roberto Ripper, o que já valeu pelo evento, graças às conversas sempre agradáveis, humoradas e proveitosas com os dois, que já começavam ao acordar e se prolongavam pelo dia.

Foi o fim de uma era que marcou e marcará para sempre a fotografia brasileira e que abriu caminhos para os vários eventos que acontecem nos dias de hoje por todo o Brasil.

Por fim, participei em 1990 de um Encontro de Organizadores de Eventos Fotográficos, em Paty do Alferes organizado pela Funarte.

Andreas Valentim

Meu primeiro contato efetivo com a Funarte foi em 1985, quando participei da I FotoNorte, uma iniciativa pioneira que mapeou talentos fotográficos da região norte do Brasil. Nessa época, eu morava em Manaus e fui procurado pelas curadoras Nadja Peregrino e Angela Magalhães, que realizaram um valoroso trabalho. No final daquela década, voltei para o Rio de Janeiro e fui trabalhar na Funarte, no recém-criado Instituto Nacional de Artes Gráficas – INAG.

Ali, tive a oportunidade não só de colaborar com excelentes profissionais, como de propor e levar adiante importantes projetos. Fizemos uma inédita parceria com a Cobra Computadores e montamos nossa própria unidade de editoração eletrônica – lembrando que, em 1989, essa tecnologia ainda era precária e pouco conhecida. Entre nossas inúmeras atividades, destaco a revista Entrelinha dedicada ao design e às artes gráficas; e a Mostra de Artes Gráficas, realizada no MAM-RJ e, em seguida, em São Paulo e em Curitiba. Foi a primeira vez que as artes gráficas tiveram uma efetiva política de estado e, apesar de todas as adversidades, obtivemos algum sucesso.

Em 1990, a política cultural desastrosa de Fernando Collor encerrou as atividades da Funarte e eu fui um dos que foram demitidos. Guardo, no entanto, excelentes lembranças da minha breve, porém, produtiva passagem pela Instituição.

Joaquim Paiva

O papel da Fundação Nacional de Artes (Funarte) no final da década de 1970 e no decorrer da de 1980 – período cuja ação presenciei e da qual pude participar – foi fundamental para o avanço, por exemplo, da fotografia no Brasil, como resultado de uma política de Estado.

Graças à iniciativa federal, as diversas regiões brasileiras se descobriram e se integraram por meio das Semanas Nacionais de Fotografia que, entre 1982 e 1989, se realizaram, a cada ano em uma capital ou cidade: Rio de Janeiro, Brasília, Fortaleza, Belém, Curitiba, Ouro Preto, Rio de Janeiro e Campinas. Os fotógrafos se conheceram, tomaram contato direto com os respectivos trabalhos, participaram de workshops profissionais, viram exposições de fotografia brasileira, assistiram a palestras e debates – em uma palavra: conectaram-se, quando não existia ainda a rede mundial de computadores. Produziram-se catálogos, livros e seminários, em especial os de preservação de fotografias. Funcionários da Funarte viajaram pelo Brasil para mapear a fotografia brasileira, em uma missão desbravadora que lembra, em pleno final do século XX, a dos antigos bandeirantes. O efeito foi que as Semanas Nacionais de Fotografia se desdobraram, a partir da década de 1990, em diversas outras Semanas e Encontros através do Brasil (Londrina, Campo Grande, Poços de Caldas, etc.) e preparam o caminho para o “boom” que a fotografia experimenta atualmente em nosso país, como reflexo do que ocorre igualmente no mundo. Estimulada pela indústria cultural, a fotografia se tornou um objeto de consumo – na forma de livros, exposições e como parte do mercado de arte – inserindo-se no circuito das artes visuais.

Esperamos todos que, além da iniciativa privada, o Estado brasileiro prossiga implementando a sua responsabilidade em apoiar as artes visuais, que constituem uma das plataformas estruturais para a construção da cultura, da identidade, da história e da imagem do País no plano nacional e internacional.

Luiz Carlos Felizardo

O grupo que aparece na fotografia reuniu-se em  agosto de 1987, em Ouro Preto. Era a VI Semana Nacional de Fotografia da Funarte: das oito que foram realizadas, a de Ouro Preto foi – pelo lugar, pelo grande número de participantes, pela variedade e qualidade das oficinas oferecidas – a mais importante, e a que nunca será esquecida. Foi uma semana de dedicação à fotografia em tempo integral, fotografando, trocando experiências em aula, vendo e mostrando portfólios – e, também, alegre, cheia de festas e reuniões em torno das histórias fantásticas do David Zingg. O sucesso de público pode ser resumido na frase que ouvi de um motorista de táxi: “Se Ouro Preto acabar, dá prá fazer outra só com as fotografias que este pessoal tá tirando.”

Mesmo assim, o exame mais aprofundado do grupo na fotografia foi uma surpresa para mim. Claro, dezesseis anos se passaram, e não lembro de todo mundo. Mas, misturados ao grupo de alunos e visitantes, identifiquei quase quarenta nomes que, sozinhos, servem para contar um pouco da história da fotografia brasileira (e latino-americana) moderna. Estão na fotografia Zé Medeiros, Stefania Brill e David Zingg (que já foram embora); estão Joaquim Paiva, Rubens Fernandes Jr., Sergio Burgi, Walter Firmo e Milton Guran; estão Miguel Chikaoka e Leopoldo Plentz; está a dupla dinâmica Ângela Magalhães e Nadja Peregrino, em muito as responsáveis por essa e outras Semanas. Recém começando, estão Tiago Santana, Cássio Vasconcellos, Rochelle Costi e Rosângela Rennó (que ainda era Gomes). E estão Panta Astiazarán e Diana Mines do Uruguai, Ataulfo Pérez Aznar e Maria Cristina Orive da Argentina. Atrasados para a foto, ainda estavam por lá Rosely Nakagawa, Cristiano Mascaro e João Urban. Os gaúchos eram poucos: além do Leopoldo, identifiquei a Lígia Bignetti, o Paulo Backes e mais três fotógrafos, um de Pelotas, o mais gaúcho da foto, de cuia em punho. Desculpem, mas desses não lembro o nome. Ah, atrás da câmera estava eu – para completar um valente grupo de sete gatos pingados em mais de seiscentos participantes…

Reencontrar essa turma toda, é claro, me deu saudade, especialmente do David e seus “causos”. Mas, também, me fez pensar muito no que a Funarte fez pela fotografia no Brasil. Por muitas outras artes também, mas a fotografia pode servir de exemplo. Todo começou em ’79, com o Núcleo de Fotografia criado pelo Zeka Araújo, que começou o mapeamento da fotografia brasileira com a realização de grandes exposições coletivas temáticas. Depois, em 1982, já com o Pedro Vasquez no comando, iniciaram as Semanas Nacionais de Fotografia, e o Núcleo foi transformado em Instituto Nacional. Nesse período, foi inaugurado o Centro de Conservação e Preservação da Funarte, cujo trabalho foi ¾ e segue sendo ¾ importantíssimo para o estabelecimento de acervos fotográficos pelo Brasil afora, e que hoje já estende seus programas de treinamento a vários países da América Latina.

Depois de 1986, foi a vez de Walter Firmo assumir e conduzir o INFoto. Mas o governo Collor logo iria acabar com (quase) tudo. Foi-se o Instituto, mas ficou a chamada Área de Fotografia, coordenada por Ângela Magalhães. E ficou o CCPF, que, é claro, recebe verbas públicas, mas se mantém com base nos serviços que presta a terceiros.

Não existe uma faceta sequer da atividade fotográfica no Brasil que não tenha sofrido uma profunda e benéfica influência da ação da Funarte: das questões legais e profissionais aos aspectos criativos e reflexivos da prática fotográfica; da mera iniciação técnica às pesquisas universitárias de pós-graduação; da circulação da produção por todo o território nacional à conquista de espaço para a fotografia brasileira no exterior; do resgate e valorização da história às apostas mais arriscadas em visionários projetos de vanguarda; do apoio às iniciativas regionais e municipais aos grandes empreendimentos nacionais; do financiamento de projetos externos institucionais à concessão de bolsas de estudo ou trabalho para autores e pesquisadores independentes. Não houve, em suma, nenhum campo da atividade fotográfica que não merecesse a atenção e o apoio – dentro da medida das reais possibilidades existentes nas diferentes épocas – da Funarte. De tal forma que a ação da Funarte pode ser encarada, sem qualquer exagero, como um indiscutível divisor de águas na história da fotografia brasileira, separando a precedente fase balbuciante da atual maturidade.

O trecho acima, do Pedro Vasquez, diz tudo. E ele diz, além disso, definindo seus anos de INFoto, que “na vida são raros, e portanto preciosos, os momentos em que o sonho entra em sintonia com a realidade.” Mesmo que sejam muitos, hoje, os que chegaram depois, somos, todos, recipientes dos benefícios que essa sintonia produziu.

Orlando Azevedo

A Funarte, ao criar o Núcleo de Fotografia, na década de 80, plantou não só o embrião e semente da visibilidade e acesso à rica produção fotográfica nacional como também gerou o pólen para que o mapeamento autoral do Brasil revelasse sua diversidade e qualidade.

A partir de sua missão espiritual e filosófica, numa verdadeira viagem e roteiro itinerante, nasce o Instituto Nacional de Fotografia – hoje de lacônica ausência e memória. Um Instituto pensado, construído e dirigido por uma heróica e competente equipe, a quem a cultura brasileira e ,de modo muito decisivo, a fotografia brasileira deve o estatuto de sua dignidade e revelação.

Abre-se a caixa preta da fotografia para iluminar olhares e a compreensão de uma nação e de seu povo. O registro de um tempo e de sua identidade e história. Há muito que o Instituto de Fotografia deveria ter reassumido, retomado e restaurado o vazio de sua lacuna.

Mas… Para isso há que ter vocação e visão.

Fiat lux.

Rogério Reis

No final dos anos 70 frequentávamos o curso do George Racz no MAM e o Núcleo de Fotografia da Funarte, dois ambientes que criaram uma boa base para a fotografia pensante, livre e contemporânea do pós-ditadura.

Rosely Nakagawa

A minha formação profissional tem dois momentos iniciais importantes: o convite do Thomaz Farkas para coordenar a Galeria Fotoptica em 1979 e o convite da Funarte para participar da Semana de Fotografia de Belém em 1985.

No primeiro caso, mais do que trabalhar num projeto de galeria, iniciei um processo de conhecimento de uma geração de fotógrafos e uma produção de fotografia que não passava por escolas, cursos e livros.

O segundo convite, feito pelo então secretário regional Luiz Braga, fotógrafo de Belém, foi feito para participar da IV Semana Nacional de Fotografia em Belém do Pará.

Participar da Semana de Fotografia do INFoto da Funarte foi a continuação desse processo de conhecimento, ampliado através de uma rede nacional de relacionamentos.

Era a primeira vez que eu saia do eixo Rio-São Paulo para participar de um Encontro de Fotografia, como coordenadora da Galeria. Eu não tinha referência da fotografia na cidade além do trabalho do próprio Luiz Braga. Levei na bagagem muitas informações sobre portfólio, papéis, cola, cartões. Fui equipada para encontrar um núcleo de fotógrafos carente de informação na oficina Como editar e montar um portfólio”, trabalho que eu começava a desenvolver na Galeria Fotoptica a partir da demanda dos profissionais com os quais eu convivia.

Ao chegar, o primeiro impacto foi conhecer muitos fotógrafos de todo Brasil. O segundo foi conhecer uma produção fotográfica regional da melhor qualidade em fotografia, material e conduta profissional.

Na década de 1980, as restrições de importações impunham uma série de dificuldades na aquisição de equipamentos e suprimentos, o que não acontecia em Belém. Era muito fácil adquirir produtos na Venezuela ou Miami.

Foi meu primeiro reconhecimento das minhas limitações. A partir de então, comecei a rever as minhas propostas, alterando inclusive a forma de ministrar as oficinas de portfólio. Além de levar materiais e exemplos de portfólios organizados, eu me dispunha muito mais a ver e conversar sobre os projetos dos fotógrafos, permitindo um intercâmbio mais efetivo.

Os encontros permitiram esta relação por enfatizarem a convivência, pautada pelo diretor do INFoto de então, Pedro Vasquez. Muitas vezes ele disse sonhar com a possibilidade de realizar encontros onde se pudesse simplesmente conviver com os fotógrafos para que as experiências pudessem ser vivenciadas. Uma convivência que permitisse o olhar igual, respeitando as diferenças e particularidades, contexto e formação.

Esta complexa rede se multiplicou como um caleidoscópio, com infinitas combinações e desdobramentos de encontros regionais além dos oficiais com o apoio da Funarte. Foi assim que conheci Miguel Chikaoka e o primeiro varal fotográfico que vi na praça da igreja do Carmo; Elza Lima, Patrick Pardini que fizeram a oficina de portfólio no Museu Goeldi, onde nossa sala ficava cercada de cotias à noite.

Em 1986, Edna Nolasco, de Vitória da Conquista, criou a I Semana de Vitória da Conquista e nos convidou a mim, José Albano e Carlos Moreira.

Em 1987, em Ouro Preto reencontrei Américo Vermelho e José Medeiros, fotógrafos que haviam participado de mostras na galeria Fotoptica. E foram muitos outros encontros nas Semanas realizadas em diversas cidades.

Essa experiência me permitiu conhecer fotógrafos de todo Brasil com os quais elaborei projetos em suas cidades ou em São Paulo, num crescendo desta rede formada ao longo do tempo. E com os quais trabalho ainda hoje, em projetos por todo o Brasil.

Até hoje tenho a oportunidade de realizar projetos com Ângela Magalhães e Nadja Peregrino, como colaboradoras em projetos de curadoria; Pedro Vasquez, como curador e fotógrafo; Pedro Lobo, do Rio de Janeiro; Tiago Santana, Celso Oliveira e José Albano, de Fortaleza; Gustavo Moura, da Paraíba; Edna Nolasco, de Vitória da Conquista; Luiz Carlos Felizardo e Leopoldo Plentz, de Porto Alegre; João Urban, de Curitiba; Luis Humberto, de Brasília; Ricardo Junqueira, de Natal; Luiz Braga, Miguel Chikaoka, Paula Sampaio, Patrick Pardini entre outros mais que surgiram após o projeto Fotografia Contemporânea Paraense de 2002, como Guy Veloso, Alberto Bitar, Dirceu Maués.

Notando que os fotógrafos mencionados foram designados Coordenadores dos núcleos regionais e até hoje são referencias profissionais em suas cidades.

Entre muitos outros mais com os quais tive oportunidade de compartilhar projetos, idéias, livros, e do qual sou formada.

Mais ainda, a cada projeto realizado em qualquer das cidades mencionadas posso contar com a articulação destes fotógrafos, amigos, produtores, curadores, e colaboradores incondicionais.

Uma herança e patrimônio únicos.

Sandra de Azevedo Fernandes

Em 1981, surge o projeto nacional de itinerância de exposições e cursos o ArteSESC, que buscava como um dos objetivos a disseminação da arte. Assim, o nascimento desse projeto se confunde com o amadurecimento do Núcleo de Fotografia na época nos seus primeiros anos de vida. Foi um casamento muito feliz, que ambas instituições lucraram – e a sociedade muito mais.

O interesse das duas instituições se fundia no desejo de divulgar os acervos de fotografia com linguagem atual da época (até hoje é atual). Descentralizar, disseminar e conhecer eram as palavras de ordem. Exposições como Nossa Gente, Classe Média Brasileira, Augusto Malta,Origens e Expansão da Fotografia no Brasil, BH, 24 horas, Ricardo Malta, I FotoNordeste, Sebastião Salgado, Coletiva de Fotógrafos do Pará, como tantas outras fizeram parte do acervo fotográfico viajante da Funarte e o SESC, ancoravam este pensamento sem limites geográficos, pois além das capitais de todos os Estados brasileiros, muitas cidades do interior receberam os acervos.

Muitos dos catálogos que acompanhavam as exposições foram adicionados ao acervo das bibliotecas. Os endereços tanto poderiam acontecer no SESC como em Universidades, escolas, centros culturais… Treinar o olhar do visitante e fazê-lo nosso parceiro nas diversas viagens com certeza conseguimos. Muitas revelações aconteceram: Miguel Chikaoka, Regina Alvarez com a sua fotografia sem câmara, recém-chegada de Portugal, revelaram através de seus cursos, palestras e exposições novidades que seriam impossíveis de conhecimento da sociedade e se não tivesse dado a eles também a oportunidade de conhecer experiências de outras regiões.

Com este primeiro passo vários desdobramentos aconteceram:

  1. Preocupação com a conservação e preservação do acervo o que nos levou a acrescentar na agenda de um treinamento a um grupo de vários Estados a visita ao Centro de Conservação e Preservação da Fotografia em Santa Tereza.
  2. Cuidados no trato do acervo: como expor, quais espaços eram mais adequados e quais outras exigências deveriam fazer parte de uma exposição fotográfica?
  3. O Sesc sediou eventos importantes de discussão da fotografia independentes das exposições. Convidou fotógrafos para eventos próprios como o Salão de Artes do Amapá, além de outros.

Stella de Sá Rego

Em 1986, fui contratada como foto arquivista do Departamento de Coleções Especiais da Biblioteca da University of New Mexico. Nesta época, a Biblioteca havia recebido uma dotação para a aquisição de materiais relativos à fotografia no Brasil: fotografias, livros, periódicos e catálogos de exposições. Eu estava ciente do rico legado cultural da fotografia brasileira graças a livros como A Fotografia no Brasil: 1840-1900, de Gilberto Ferrez. O texto e as belas ilustrações deste livro foram fundamentais para a ampla disseminação de informações acerca da história da fotografia no Brasil, tendo inspirado os scholars de nossa universidade – que conta com um forte departamento de fotografia – a querer saber mais.

Assim sendo, viajei para o Brasil, onde me encontrei com fotógrafos, professores, bibliotecários e livreiros. Visitei a Funarte e fiquei muito impressionada com seus funcionários, bem como com os esforços envidados no sentido de conservar e preservar o patrimônio fotográfico brasileiro. Tive também a sorte de visitar Gilberto Ferrez em sua bela casa no Rio de Janeiro. Na ocasião, ele me autorizou a traduzir seu livro para o inglês (publicado pela University of New Mexico Press em 1990). O interesse pela fotografia brasileira nos Estados Unidos foi gerado pelos esforços combinados de fotógrafos e pesquisadores brasileiros e norte-americanos, com o apoio de entidades como a Funarte, e redundou em grande número de exposições e publicações. Como resultado dessa dedicação e desse entusiasmo, a fotografia brasileira desfruta hoje do prestígio e da aceitação internacional que ela merece.

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