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O Teatro de Amadores de Pernambuco se consagra no Rio

A primeira temporada carioca do grupo foi registrada por Foto Carlos

Elenco do Teatro de Amadores de Pernambuco encena 'Esquina Perigosa', de J.B. Priestley

Elenco do Teatro de Amadores de Pernambuco encena 'Esquina Perigosa', de J.B. Priestley

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“Na realidade – confesso plenamente – eu tinha medo do Rio, da plateia do Rio, da crítica do Rio.” A revelação de Valdemar de Oliveira, criador e líder do Teatro de Amadores de Pernambuco, mostra o desafio que a companhia nordestina viria a encarar quando decidiu fazer sua primeira turnê na então Capital Federal, em 1953. Mas, apesar de o grupo já trazer no nome a carga “informal” de seu trabalho, a verdade é que, naquele momento, o TAP já era praticamente profissional. Era visto assim, pelo menos, pela crítica pernambucana e nas cidades nordestinas onde fez turnê antes de encarar a saga carioca.

Originário do grupo Gente Nossa, o TAP buscava encenar textos que se diferenciassem do repertório comercial. Buscando qualidade técnica e diálogo com as novidades estéticas que vinham da Europa, o grupo contratou no começo dos anos 50 encenadores importantes, como Ziembinski, Graça Mello, Bibi Ferreira e Hermilo Borba Filho. Com tudo isso, conseguiu firmar um lugar cativo na preferência da plateia recifense.

Mesmo com tanto apuro e com o reconhecimento da classe teatral do Sudeste, a partir do contato com esses diretores, havia razões para temer a viagem para a então capital. Primeiro, pelo modo de falar, como conta Valdemar: “Certa vez, depois de assistir a uma de nossas récitas, o então diretor do Serviço Nacional do Teatro, Sr. Thiers Martins Moreira, não nos animara muito: o sotaque nortista dos componentes do nosso elenco seria um forte obstáculo a uma vitória no Rio de Janeiro”.  Além disso, seria necessário encarar problemas de produção de toda ordem – da falta de dinheiro à dificuldade para achar hospedagem, passando pela desconfiança da imprensa pernambucana em relação à excursão.

Mas nenhum revés seria mais forte que o estímulo de uma grande figura do teatro carioca. “De lá, uma grande voz nos animava, fraternalmente: a de Paschoal Carlos Magno, que aos gritos de ‘venham, venham’ dizia que ‘se o mundo é grande, minha casa é maior’”, conta Valdemar. Todos esses depoimentos do líder do TAP estão em um libreto sobre a experiência carioca da trupe, disponível no Centro de Documentação (Cedoc) da Funarte.

É isso mesmo: a temporada foi tão bem-sucedida que um pequeno livro foi feito, reunindo textos da equipe, críticas de jornais e fotos das quatro peças encenadas no Rio: Esquina Perigosa (de J.B. Priestley, direção de Ziembinski), A Casa de Bernarda Alba (de García Lorca, direção de Valdemar de Oliveira), Arsênico e Alfazema (de Joseph Kesselring, direção de Valdemar de Oliveira) e Sangue Velho (de Aristóteles Soares e Valdemar de Oliveira, direção do último). Pelas críticas, publicadas pelos principais jornais cariocas, vê-se que os temores não eram justificados (ou foram superados): uma a uma, as montagens do TAP foram exaltadas como exemplos do melhor teatro feito na época. E o público reagia à altura, lotando o Teatro Regina (atual Dulcina).

A começar pelo “padrinho” Paschoal Carlos Magno, que registrou no Correio da Manhã: “Criticar? Mas criticar o quê? (…) No teatro de hoje não há mais profissionais e amadores. Há simplesmente artistas, uns pagos e outros não. Esse grupo que vem do Norte, não honra só Pernambuco, mas o teatro do Brasil em geral. Sobra-lhe dignidade artística. Cada um de seus intérpretes é uma lição de solidariedade emocional. As dificuldades da peça são vencidas com uma naturalidade impressionante”.

Além das críticas de jornais, o livrinho traz um depoimento de Barbosa Lima Sobrinho feito especialmente para o documento. Nele, o veterano intelectual dá uma boa noção do que significava o teatro amador na época. Veja alguns trechos a seguir:

“Esse pequeno grupo de entusiastas se foi aperfeiçoando e crescendo e constitui, hoje, um teatro excelente, como puderam verificar todos os que compareceram ao Regina. (…) Não quero dizer que não tenhamos grandes valores em nosso teatro profissional. Mas o que podemos observar é que há uma terrível tendência ao exagero.”

“Um dos efeitos mais salutares do amadorismo é o respeito ao trabalho dos autores. (…) Ainda há outro grande aspecto a considerar e que vi realçado pela palavra sóbria e arguta do sr. Paschoal Carlos Magno: é a seleção de repertório. Havia, no Brasil, um receio imenso das grandes peças teatrais, sob a suposição de que as plateias ainda não estariam educadas, para prestigiar um movimento sério, em favor do bom teatro. E como as companhias profissionais, obrigadas a salários e a grandes despesas, não queriam arriscar o êxito financeiro de suas representações, vivíamos condenados a peças detestáveis. Foi preciso que as organizações de amadores, despreocupadas de lucros, viessem mostrar que já temos plateia para um teatro selecionado.”

Veja na galeria ao lado as imagens da temporada carioca feitas por Carlos Moskovics, do Estúdio Foto Carlos.

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