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Biografia de Dulcina de Moraes

Atriz descende de família de atores

Dulcina de Moraes

Dulcina de Moraes

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Quando nasceu, Dulcina não deixou dúvidas de que seu destino era mesmo ser atriz. Em 1908, seus pais, dois grandes atores da época, excursionavam com uma companhia pelo interior do Rio de Janeiro, quando chegaram à cidade de Valença. Átila e Conchita de Moraes – ela grávida de Dulcina, prestes a dar à luz – iam apresentar uma peça naquela mesma noite. No hotel onde o elenco se hospedaria, seu proprietário, ao perceber que alguém iria nascer a qualquer momento dentro de seu estabelecimento, proibiu que o casal ali permanecesse. Houve um início de tumulto, o elenco revoltou-se e recusou-se a ficar hospedado naquele local. O incidente chegou aos ouvidos da Condessa de Valença que, imediatamente, liberou um casarão desabitado para receber os artistas. Providenciou-se um colchão, toda a população solidarizou-se trazendo mantimentos e, com ampla audiência e aplausos de todos, no dia 4 de fevereiro, vinha ao mundo Dulcina de Moraes.

Estreou como protagonista aos 15 anos na peça Lua Cheia, a convite de Leopoldo Fróes, um dos maiores mitos teatrais do século XX, sendo apontada como uma verdadeira revelação. Em Buenos Aires também agradou em cheio e era saudada como “la chica de Fróes”. Daí em diante, integrou as mais importantes companhias teatrais até criar a sua própria, junto com o marido, Odilon Azevedo, com quem casou-se em 1931. A Cia. Dulcina-Odilon foi responsável por êxitos memoráveis nos palcos nacionais. Em 1933, alcançou estrondoso sucesso com a peça Amor, de Oduvaldo Vianna, que estreou em São Paulo e, no ano seguinte, no Rio de Janeiro, inaugurou o Teatro Rival, percorrendo depois todo o país e tornando-se um de nossos maiores clássicos.

A Cia. Dulcina-Odilon, uma das mais profícuas de que se tem notícia, foi fundada em 1935, encenando importantes dramaturgos brasileiros e internacionais. Foi a Cia D-O quem, pela primeira vez, apresentou ao público brasileiro autores como García Lorca (Bodas de Sangue), D’Annunzio (A Filha de Iório), Bernard Shaw (César e Cleópatra, Santa Joana, Pigmaleão) e Giraudoux (Anfitrião 38). Os autores nacionais também brilharam no repertório de Dulcina, como Viriato Correia (A Marquesa de Santos), Raimundo Magalhães Jr (O Imperador Galante) e Maria Jacintha (Convite à Vida, Conflito, Já é Manhã no Mar), entre muitos outros.

Mas 1945 reservava para Dulcina a maior consagração de sua vida, maior ainda do que Amor: o espetáculo Chuva, adaptação de uma novela de Somerset Maugham, estreava no Theatro Municipal, dirigida e protagonizada por ela, vivendo a personagem “Sadie Thompson”. Foi encenada por anos seguidos em todo o país, na América Latina e em Portugal, deixando uma legião de admiradores, entre eles, muitas queridas estrelas como Marília Pêra, Bibi Ferreira, Fernanda Montenegro e Nicette Bruno (esta, inclusive, lançada por Dulcina).

Fundação Brasileira de Teatro

As décadas foram significativas para Dulcina de Moraes: 20 anos depois da criação da Cia. D-O e dez anos depois do estrondo de Chuva, em 1955, iniciava suas atividades a Fundação Brasileira de Teatro, por quem ela viveu e morreu, deixando até um pouco de lado sua gloriosa trajetória como atriz, diretora e empresária, para dedicar-se integralmente a este sonho, primeiro no prédio onde hoje está o teatro que leva seu nome, no centro do Rio de Janeiro, e a partir de 1972, em Brasília, formando centenas de atores, dando dignidade à profissão.

Teve apenas uma e mal-sucedida experiência em cinema com o filme 24 Horas de Sonho, um dos poucos equívocos em sua carreira de incontáveis sucessos, pontuando com qualidade os seus trabalhos (ficaram famosos os figurinos e os cenários dos espetáculos da Cia D-O). Ainda voltaria ao palco algumas vezes entre a mudança definitiva para Brasília e a dedicação exclusiva à FBT: Mulheres, uma nova montagem de Tia Mame, O Melhor dos Pecados, de Sérgio Viotti, direção de Bibi. E um Prêmio Molière Especial em 1982. Antes e depois e sempre a luta pela sua amada Fundação, que só abandonou quando não tinha mais forças.

Embora algumas fontes digam que foi um ano antes, Dulcina realmente faleceu em 28 de agosto de 1996, em Brasília. Foi uma mulher admirável, que deixou um legado para atores e público: respeito, humor, profissionalismo, perseverança, cultura, delicadeza e amor pelo teatro.

Saiba mais sobre Dulcina de Moraes em:

VIOTTI, Sergio. Dulcina e o Teatro de seu Tempo. Rio de Janeiro: Lacerda, 2000

MAGALDI, Sábato / VARGAS, Maria Thereza. Cem Anos de Teatro em São Paulo. São Paulo: Senac, 2000

KHOURY, Simon. Bastidores. Rio de Janeiro: Letras & Expressões / Montenegro & Raman, 2002

KAZ, Leonel (org). Brasil: Palco e Paixão / Um Século de Teatro. São Paulo: Aprazível, 2004/2005. (HELIODORA, Bárbara / artigo: O Teatro no Brasil: de Anchieta a Vestido de Noiva; BRANDÃO, Tania / artigo: Um Teatro se Improvisa: a Cena Carioca de 1943 a 1968)

ANDRADE, Ana Lúcia Vieira (org). A Mulher Brasileira e o Teatro do Século XX. São Paulo: Hucitec, 2006, no prelo (FONTA, Sérgio / Artigo: Dulcina de Moraes e a Perene Idade das Estrelas)

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Sobre o Autor, Sérgio Fonta

Sérgio Fonta é ator, diretor teatral, dramaturgo e pesquisador

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DIVINA

enviado em 3 de agosto de 2011

A BIOGRAFIA DE DULCINA DE MORAES, E UMA MARAVILHA PARA SABER UM POUCO SOBRE ELA.

Alex Bernardo

enviado em 27 de dezembro de 2012

Tudo, depois que Dulcina passa, deixa de ser comum. Sua vida é uma maravilha! A biografia que o grande Sérgio Viotti fez é de uma exemplar dedicação e amor. E Dulcina de Moraes fez por merecer…

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