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As andanças de Djanira

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Djanira nasceu do encontro de dois mundos. Filha de pai austríaco e mãe indígena, desde muito jovem foi obrigada a se mudar e a se distanciar daquilo que conhecia e amava. Até que as mudanças e viagens passaram a ser, para a artista, uma fonte imprescindível de renovação, aprendizado e inspiração.

Nascida em Avaré, São Paulo, em 1914, viveu o início da infância no meio de lavouras de café, animais, trabalhadores do campo, festas de arraial, circos e parques de diversões. Logo vieram as primeiras perdas e mudanças. Com a separação dos pais, ainda na infância, Djanira foi levada para Porto União, na divisa entre Santa Catarina e Paraná. Seu pai, dentista itinerante, deixou-a com uma família amiga, sob a promessa de voltar para buscá-la, o que não aconteceu. Djanira só voltaria a vê-lo mais de vinte anos depois, quando foi atrás dele, por conta própria.

A menina cresceu em Porto União, cercada pela natureza que, desde cedo, aprendeu a amar. Aos 16 anos, levada por sua avó materna, voltou para Avaré. Na adolescência, a vida não se tornara mais fácil. Além de separações, sua juventude foi marcada também por pobreza e doenças. Provavelmente, vem daí sua sensibilidade para compreender as coisas e os seres, assim como sua capacidade de superar os desafios, sublimando-os por meio de sua arte.

As longas jornadas de trabalho, aliadas à pobreza, fizeram com que Djanira, aos 23 anos, fosse dignosticada com tuberculose. Ela foi internada em um sanatório em São José dos Campos (SP) e desenganada pelos médicos. Um dia, um desenho do Cristo Redentor, pendurado na parede, inspirou-a a dar sua própria versão à imagem. Surgiu um Cristo retorcido, sofrido, muito diferente do que estamos acostumados a ver. A partir daí, ela não parou mais de desenhar.

Recuperada da doença, Djanira foi para o Rio de Janeiro continuar seu tratamento. Aconselhada pelo médico, foi morar no bairro menos poluído da cidade: Santa Teresa. O lugar não apenas viu nascer a artista, como se tornou parte de sua vida e de seu trabalho. Em 1943, ela alugou um casarão no bairro, onde instalou uma pensão familiar, que era frequentada principalmente por pintores e escultores. Entre eles, o pintor romeno Emeric Mercier, com quem Djanira fez um acordo: ela lhe dava casa e comida, e ele, aulas de pintura. Apesar de ter estudado por alguns meses, tornou-se autodidata, alcançando a maior parte de seu conhecimento técnico  sozinha.

A convivência com os artistas estimulou Djanira a desenvolver ainda mais sua pintura e a querer ver de perto os trabalhos célebres de que ouvia falar constantemente. Então, em 1945, ela realizou sua primeira viagem ao exterior. Foi para os Estados Unidos, onde passou três anos. Esse foi um período de intenso aprendizado, em que visitou diversos museus e conheceu pessoalmente artistas renomados, como Chagal, Miró e Léger. Além disso, expôs na New School for Social Research, em Washington, tendo sido elogiada por Eleanor Roosevelt, colunista de arte e viúva do ex-presidente dos Estados Unidos Franklin Roosevelt.

De volta ao Brasil, Djanira continuou, mais e mais, a andar em busca de material para produzir sua arte. Lugares como Paraty, Petrópolis e Cabo Frio serviam, ao mesmo tempo, de refúgio e inspiração, de onde trazia inúmeros croquis, que viravam arte em sua casa. A artista correu o Brasil de norte a sul para pintar. Viveu por meses com os índios Canelas, do Maranhão, e desceu às soturnas minas de carvão de Santa Catarina para compreender a dureza da vida dos mineradores. Não conseguia parar por muito tempo. Precisava sentir, viver, estar na realidade que queria retratar, embora sempre voltasse para Santa Teresa, onde ficava seu ateliê, uma oficina para a finalização de seus trabalhos.

Djanira pintava o povo, as manifestações populares, os objetos que estimava, os animais que amava. Pintava o simples, mas não de forma simplória. Observava amorosamente cada paisagem, cada figura, cada festa popular, documentando o real, a meio caminho entre a fidelidade e a transfiguração lírica. Suas andanças foram tantas, que encheram seus olhos de cores, formas, traços, e estes se misturaram ao que ela trazia de mais sensível, às suas lembranças mais profundas. Seus desenhos e pinturas, então, tornaram-se uma forma de pisar de novo as terras por onde havia passado.

Por Adriana Passos
Revisão de Maria Cristina Martins e Pedro Paulo Malta

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